Se você é pai ou mãe de um adolescente, é possível que já tenha se deparado com a situação: seu filho parece passar mais tempo no quarto do que em qualquer outro lugar. É natural ficar preocupado e se questionar sobre o que está acontecendo.
Neste artigo, vamos explorar essa dinâmica, oferecer insights baseados no pensamento sistêmico, neurociência, educação positiva e educação socioemocional, e discutir estratégias para lidar com essa fase desafiadora e nunca mais precisar dizer: “Meu filho não sai do quarto!”
Entendendo o Comportamento Adolescente
A adolescência é uma fase repleta de mudanças, e o isolamento no quarto muitas vezes está relacionado a essas transformações. Os adolescentes passam por uma intensa busca por identidade, o que pode envolver momentos de introspecção e autoconhecimento. É crucial compreender que se esta fase for vivida de forma plena ele sairá dela sabendo quem é e qual seu papel no mundo.
Entenda que o isolamento não é necessariamente negativo e pode ser uma forma de lidar com as emoções e pressões da adolescência. O que não é saudável é estar isolado no quarto o tempo todo. Rejeitando os momentos em família. Se isso está acontecendo por aí é hora do resgate da conexão.
Pensamento Sistêmico e Relações Familiares
Abordar o comportamento do adolescente requer uma perspectiva sistêmica. Uma perspectiva sistêmica, nesse contexto, envolve enxergar o comportamento do adolescente como parte de um sistema mais amplo: adolescente, família, colegas, escola, mundo, etc…, As relações são diversas e dinâmicas, não se trata do comportamento de uma das partes e sim sobre o que aquele comportamento revela sobre o sistema em questão. Em vez de focar apenas no indivíduo, vamos falar de como cada um se influencia mutuamente, buscando compreender o quadro completo para lidar de forma eficaz com questões específicas.
Em vez de focar exclusivamente no comportamento isolado, é essencial considerar as dinâmicas familiares como um todo. Pergunte a si mesmo: Como anda a comunicação em casa? Há um ambiente aberto para expressão de sentimentos? Criar uma atmosfera de compreensão e apoio é fundamental para lidar com o adolescente que passa mais tempo no quarto.
Neurociência e a Adolescência
A neurociência oferece insights valiosos sobre o cérebro adolescente. Durante essa fase, o cérebro está em constante desenvolvimento, especialmente áreas relacionadas ao processamento emocional e tomada de decisões. O isolamento pode ser uma maneira de lidar com o turbilhão de emoções. É importante ser sensível a essas mudanças e oferecer suporte emocional, promovendo um ambiente seguro para a expressão de sentimentos.
O adulto ou os adultos da relação, que são aqueles com o cérebro maduro e já desenvolvido, precisam desempenhar o papel de co-reguladores do cérebro do adoslescente que além de não estar plenamente desenvolvido. (isso ocorrerá aos 25 anos), ainda passa por intensas mudanças.
A co-regulação é um processo no qual o adulto, com um cérebro maduro e estável, oferece apoio emocional e mostra ao adolescente em ação como se acalmar, se motivar, se relacionar de forma saudável.
Ao compartilhar experiências, ouvir sem julgamentos e oferecer segurança, o adulto auxilia o adolescente a desenvolver habilidades de autorregulação emocional. Essa prática contribui para o crescimento emocional saudável do adolescente, capacitando-o a gerenciar suas próprias emoções ao longo do tempo.
Entendo que a grande maioria dos pais de adolescentes e crianças não foram co-regulados nas suas próprias infâncias e adolescências. Por este motivo, é fundamental cuidar de si mesmo em primeiro lugar e buscar seu próprio equilíbrio interno. A fim de ajudar a ficar mais palpável o processo de co-regulação, aqui estão elementos essenciais que vão ajudar você neste processo e a restabelecer a conexão perdida com o seu adolescente.
Construa Pontes de Confiança: Estabeleça uma base sólida de confiança e compreensão. Olhar para as potencialidades, o que existe de bom ao invés de se concentrar tanto no que pode melhorar e uma excelente forma de construir pontes na relação.
1. Crie um Espaço Sem Julgamentos:
Garanta que o ambiente seja seguro e livre de críticas. Cada crítica é um passo para trás na conexão, porque o adolescente vai entrar na defensiva. Não estou sugerindo que você não cumpra seu papel de mediador entre seu adoslescente e o mundo. Apenas estou convidando você a fazer isso de uma maneira mais leve e saudável para ambos. Inspire mais e critique menos e você verá a paz voltar ao lar.
2. Seja um Ouvinte Ativo:
Demonstre interesse genuíno nas experiências do adolescente. Não é sobre discursos, broncas e sim sobre promover diálogo. Em um diálogo você se torna capaz de falar e também de ouvir. Treine sua capacidade de ouvir sem julgamentos, sem querer consertar nada em um primeiro momento. Assim você abre espaço para conexão verdadeira.
Eu tenho uma filha de 14 anos, ela gosta de falar do seu dia antes de ir dormir. É um momento nosso onde escuto sobre seus desafios, os aprendizados daquele dia. Estou trabalhando para ouvir mais e palpitar menos nestes momentos. É sobre o acolhimento que faz toda a diferença.
3. Compartilhe Histórias Relevantes:
Nada une mais do que boas histórias. Antigamente os vizinhos se reuniam nas varandas das casas para contar causos (como se diz aqui em Minas Gerais). Acredito que as pessoas se sentiam menos sozinhas e era mais fácil lidar com os desafios do dia a dia.
Conecte-se a partir das suas próprias histórias. ao invés de dar uma bronca, conte sobre aquele momento que fez algo impulsivo e as consequências que teve que lidar. Fale sobre seus desafios com a escola, com os amigos, com a família e sobre como foi adquirindo recursos ao longo da vida, para lidar com eles. Fale sobre seus desafios atuais e como tem lidado ou não com eles. Conecte-se através de narrativas pessoais significativas.
4. Guie Sem Impor Soluções:
Ofereça direcionamento sem impor respostas prontas. É muito mais sobre boas perguntas do que sobre respostas prontas. Quando você quer a atenção da pessoa que está conversando com você, ofereça perguntas. Desenvolva-se na arte das perguntas profundas.
Ao invés de dizer como foi seu dia? Você pode se aventurar em perguntar sobre os momentos desafiadores do dia, sobre o que despertou raiva, injustiça, medo. Você pode ouvir e perguntar mais e mais. Como você resolveria tal coisa? Estamos passando por este desafio, o que você pensa sobre isso? Curiosidade genuína a favor do desenvolvimento integral.
Você verá seu adolescente sair do quarto em busca da sua presença, acolhimento, diálogo e troca de experiências. Pequenas mudanças que enriquecem não só a relação, mas a vida.
5. Educação Positiva e Reforço Positivo
Ao lidar com o adolescente que prefere o isolamento, a abordagem positiva é eficaz. Em vez de focar apenas no tempo passado no quarto, faça convites constantes para favorecer também a conexão e a convivência familiar.
Isso pode incluir participação em atividades familiares cotidianas, momentos de comunicação aberta, jogos ou celebração das conquistas pessoais. Você pode oferecer um jantar especial para celebrar a superação de um medo ou de uma nota baixa. Bem como pode oferecer um jantar especial de acolhimento a um momento desafiador simplesmente para dizer para o seu adolescente: estou aqui, pode contar comigo, você não está sozinho.
Você pode promover momentos de gratidão, pela vida, pela família, pelo ar, pela saúde, por poder estar aqui e agora. Você verá que promover o bem, o bom e o belo é transformador.
6. Educação Socioemocional e Compreensão Emocional
A educação socioemocional desempenha um papel crucial. Incentive a compreensão emocional, tanto do adolescente quanto dos membros da família. Estimule a empatia, promovendo a capacidade de se colocar no lugar do outro. Mais do que empatia, promova a compaixão.
Fico perplexa ao constatar o número de adultos que se esqueceram dos desafios da própria infância e adolescência. Se você se lembrar, garanto que será muito mais fácil ser compassivo. Criar um ambiente onde as emoções são compreendidas e aceitas facilita a abertura para diálogos significativos. Aprender a nomear o que está sentindo é uma aventura empolgante e libertadora. Experimente!
Sou especialista em Educação Socioemocional, atuo com crianças do Ensino Fundamental, e vejo o quanto estar presente é curativo. O quanto é importante abrir espaço para que outro seja em plenitude, com respeito e amor sempre. Quando eu faço essa escolha consciente eles não são os únicos beneficiados, eu também me curo no processo.
Conclusão
Lidar com um adolescente em isolamento não é uma tarefa fácil, mas abordar a situação com compreensão e estratégias baseadas em princípios como pensamento sistêmico, neurociência, educação positiva e socioemocional pode fazer uma grande diferença. Respeitar a necessidade de solitude sem prejudicar os momentos de conexão familiar é promover equilíbrio.
Ao criar um ambiente de apoio, comunicação aberta e incentivo ao desenvolvimento emocional, você estará construindo as bases para uma relação saudável e positiva com seu filho durante essa fase incrível de mudanças chamada adolescência. Leia também: Por que Adolescentes se Colocam em Risco.
Entenda que cada adolescente é único, e a paciência, empatia e amor são fundamentais para atravessar juntos esse período de transformações. Convido você querido adulto, a abrir mão das comparações e mergulhar no conhecimento profundo de quem você é e de quem seu adolescente é. O mundo agradece.